Festival dá prêmio de melhor ator infantil a menino rio-pretense de 12 anos

O que de mais valioso você guarda em sua caixa de memórias? Essa é a única frase da sinopse do curta-metragem Aperto (Estevacine Filmes, 2019), dirigido pelo cineasta Alexandre Estevanato, enraizado em Rio Preto. Como uma premonição, a resenha traduz o momento vivido pelo elenco, agora em 2022: algo valioso e que será guardado para sempre na memória.

No último dia 30, o filme, que concorreu sendo indicado em sete categorias na 2ª edição do FIC Rio (Festival Internacional de Curtas), ganhou duas delas e levou o prêmio de melhor ator infantil ao menino rio-pretense Cauê Jesus, de 12 anos. O diretor de TV e professor de edição Juca Vasques, também levou o prêmio de melhor efeitos visuais.

“Juca foi o editor do filme. Ele fez toda a colorização do filme e os efeitos visuais. O prêmio foi em virtude de terem ficado muito bons os efeitos que ele colocou no filme. Mudamos a cor do céu, inserimos pássaros que não tínhamos. Ele acrescentou mais volume de chuva em uma cena em que estava chovendo. Esses eventos engrandecem o filme quando não ficam falsos. Ele conseguiu inserir um coelho em uma cena que o Ícaro Negroni teve que fazer um malabarismo para interpretar sem nada ao redor, aí incluímos o coelho em chroma key. Tudo isso é muito divertido e valioso”, explica o cineasta.

O elenco composto por praticamente 100% de atores negros, traz figuras de peso como o ator global e protagonista Milton Gonçalves, de 88 anos, o ator rio-pretense Ícaro Negroni, além de diversos atores e atrizes do interior paulista – novos rostos da representatividade negra na arte, no cinema e no audiovisual.

Um dos grandes feitos do curta, que tem a saudade como tema principal e transmite ao telespectador aquele “aperto no peito”, é a revelação de Cauê Jesus como ator infantil. Filho de capoeiristas negros, o menino quebra os padrões e mostra à que veio em seu primeiro trabalho, algo inesperado e que surpreendeu os pais e até mesmo o cineasta.

“O Cauê apareceu na produtora com os pais e ele já estava pronto. Gostei da atitude dele, do comportamento dele. Ele quis participar do teste e foi lá por vontade própria. O que eu achei mais legal é que a todo momento os pais dele perguntavam se ele queria fazer o filme e respeitaram a decisão dele, ele disse que sim! Tudo isso somado a semelhança física com o Milton Gonçalves, protagonista do filme, me fez escolher ele. Foi uma grande surpresa porque ele nunca tinha atuado em nada profissional e se entregou, entendeu o papel e o Festival reconheceu o talento dele. É um menino de ouro!”, comemora Estevanato.

Mãe do “menino de ouro”, Jac Jesus conta que apesar dela e do marido Redson Souza serem capoeiristas, sempre deixaram o filho livre para escolher as atividades de sua preferência. Criado no meio cultural, Cauê nunca havia pensado em ser ator, até que se identificou com o papel proposto no curta.

“A gente fica cheio de orgulho. O primeiro passo foi perguntar para o Cauê, se ele queria participar. O segundo foi conhecer o Alexandre, pessoa incrível. Depois conhecemos do que se tratava o filme e nos apaixonamos pela história, mas quem decidiu trabalhar foi o próprio Cauê”, conta a capoeirista.

Para Jac, o prêmio do filho também é um presente para a sociedade.

“O Aperto é um presente para nós. Esse prêmio é sobre uma criança negra que destoa dos padrões estabelecidos e que mudou muita coisa na vida dessa criança que quebra esses padrões e muda comportamentos, principalmente em torno do ambiente que ele vive, que é o escolar. Um filme com praticamente cem por cento de atores negros é um presente para a sociedade, onde estamos conquistando cada vez mais espaço e representatividade”, diz.

Ao Gazeta, com seu tom de voz marcante, mas com a leveza de um menino de 12 anos, Cauê falou sobre a sensação de ter ganhado um prêmio de cinema em seu primeiro trabalho.

“Foi muito legal! Eu me sinto bastante privilegiado por ter sido chamado para participar de um filme com vários atores incríveis, e também por ter ganhado o prêmio. Foi a primeira vez que atuei e fazer o filme ‘não tem palavras’, foi realmente ‘um aperto’”, brincou.

Na escola, Cauê é um garoto de bons amigos e leva o momento com simplicidade e o entusiasmo natural de um pré-adolescente.

“Parece que todo mundo é meu fã e todo mundo me conhece! Estou criando muitas amizades, todos me apoiaram na escola. Quando eu fiz o Aperto eu gostei, então eu penso bastante nisso (em atuar) e gostaria sim de continuar sendo ator. Se eu não for ator, gostaria de ser jogador de futebol, eu gosto muito de jogar”, finaliza.

O curta-metragem Aperto pode ser assistido na programação do Canal Brasil.

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